Os perigos da indiferença
Zugaib: região indiferente ao destino da Ceplac.
O que é indiferença? Etimologicamente, a palavra significa sem diferença. Um estranho e incomum estado no qual as linhas ficam borradas entre a luz e a escuridão, o crepúsculo e o amanhecer, o crime e a punição, a crueldade e a compaixão, o bom e o mau. Quais são seus caminhos e inescapáveis consequências? É uma filosofia? Existe uma filosofia concebível de indiferença? É possível ver a indiferença como uma virtude? É necessário, às vezes, praticá-la simplesmente para manter a sanidade, viver normalmente, aproveitar uma boa refeição e uma taça de vinho, enquanto o mundo ao redor de nós está experimentando revoltas angustiantes? Utilizo parte do discurso de Elie Wiesel romeno, filho de uma família tradicional judia que viveu nos campos de concentração Auschwitz-Birkenau, na Polônia, sob o domínio nazista, para demonstrar a indiferença com que a sociedade regional está encarando a CEPLAC nos últimos anos.
A CEPLAC que já contribuiu muito com o desenvolvimento regional e dentre as suas principais ações podemos citar: construção de universidade, porto internacional, escolas, pontes, hospitais, etc., sem contar com a pesquisa e a assistência técnica elevando o Brasil a categoria de 2º produtor mundial com uma exportação de quase US$ 1 bilhão. A CEPLAC atual que ainda continua contribuindo, claro, em menor escala. Alguns querem que ela contribua no mesmo nível do passado, mas como? se o seu orçamento se reduziu a 1/10, consequentemente sua estrutura não está sendo mantida, como se o seu quadro que já foi de 4.500 funcionários em todo o Brasil não passa de 1.900 nos seis estados em que atua. Continua se aposentando uma média de 60 funcionários por ano, somente no ano de 2014 aposentaram-se 61, sendo 22 técnicos de nível superior, 25 nível intermediários e 14 de nível auxiliar e a cada ano que passa esse quadro vai se agravando ainda mais, isto sem contar com os falecimentos. Em 2011 faleceram 22 técnicos do nível superior, 29 do nível intermediário e 15 do nível auxiliar. O mais grave é que os pesquisadores que se aposentam, não estão sendo repostos, levam consigo todo o seu saber, sem haver transferência do conhecimento.
Continua Wiesel, “É claro que a indiferença pode ser tentadora – mais do que isso, sedutora. É muito mais fácil não olhar para as vítimas. É muito mais fácil evitar as tão rudes interrupções a nosso trabalho, a nossos sonhos, a nossas esperanças. É, afinal, estranho, perturbador, estar envolvido na dor e no desespero de outra pessoa. Ainda assim, para a pessoa que é indiferente, seus vizinhos ou vizinhas não são importantes. E, portanto, a vida delas não tem significado. Suas angústias escondidas ou visíveis não são importantes. Indiferença reduz o outro a uma abstração”.
Pior ainda, alguns tentam dissimular e negar as novas ações da CEPLAC em busca do desenvolvimento regional como: os clones produtivos que a CEPLAC desenvolveu, o direcionamento em busca de um chocolate fino com alto teor de cacau, o consumo de chocolate no mundo está sendo redirecionado de um chocolate com leite e açúcar para um chocolate com alto teor de cacau e isto evidentemente aumenta a demanda por mais cacau, ninguém pode negar que que essa estratégia nasceu na CEPLAC. A tecnologia gerada que com crédito disponível pode levar o produtor a produzir até 200 @/há, devidamente comprovada. O que falta é crédito para que os produtores possam aplicar essa tecnologia. E várias outras ações na diversificação regional a exemplo do agropolo de frutas no vale do Rio de Contas, a melicunicultura, a pupunha, e outras infinidades de culturas diversificadas.
Prossegue Wiesel “A indiferença não extrai uma resposta. A indiferença não é uma resposta. A indiferença não é um começo é um fim. E, portanto, a indiferença é sempre a amiga do inimigo, já que beneficia o agressor – nunca sua vítima, cuja dor é aumentada quando ele ou ela se sentem esquecidos. O prisioneiro político em sua cela, a criança faminta, os refugiados sem-teto – não responder à sua situação, não aliviar sua solidão por meio do oferecimento de um brilho de esperança é exilá-los da memória humana. E, ao negar a humanidade dessas pessoas, nós traímos a nossa.”
O parque tecnológico é uma saída, onde a ciência e tecnologia podem ser transformadas em produtos, processos e serviços gerando renda e emprego no Sul da Bahia. A CEPLAC em parceria com a UFSB, a UESC, os IFBahia e Baiano podem gerar o conhecimento necessário para atrair novas mentes, novos empresários para investirem no desenvolvimento sustentável dessa região. A CEPLAC dando prioridade à conservação produtiva em parceria com a secretaria de meio ambiente do governo do estado da Bahia e realizando sua extensão com ajuda dos colégios universitários da UFSB. Essa é a lógica da Superintendência da Bahia, é a lógica da CEPLAC. Essa parceria entre a CEPLAC e a UFSB tem de acontecer de uma forma simbiótica, mas respeitando a individualidade de cada uma. Porisso, a CEPLAC tem que contratar imediatamente, ser redirecionada aos seus objetivos estratégicos porque a sua missão já está bem clara e atual “Promover o desenvolvimento sustentável das regiões produtoras de cacau”. Temos um plano estratégico realizado pela Symmetic que seguimos, este plano pode ser sempre atualizado pela comunidade regional. Mesmo com a parceria com a UFSB, a CEPLAC tem que contratar imediatamente, principalmente em áreas estratégicas como engenharia agrícola, quimíca e físico-química, nutrição, etc., pois corre o risco de ser fagocitada e acabar e isto não é bom. A economia regional sofreria um baque sem precedentes, pois deixaria de ter injetada em suas transações cerca de R$ 250 milhões anualmente só com folha de pessoal, se somarmos os investimentos esse valor pode chegar a R$ 300 milhões. Quantos filhos de grapiúnas já se formaram em agronomia, medicina veterinária, economia, etc e foram buscar empregos fora daqui, quando podiam ser contratados pela CEPLAC. Aí sim, será tarde demais, basta nos lamentarmos pela perda do ICB, do Sistema Copercacau, das empresas exportadoras a exemplo da Barreto de Araújo, etc. Amigos grapiúnas “Não existe região forte sem instituições fortes”.
Ainda segundo Wiesel, “Crentes em nossa tradição, alguns de nós sentiram que sermos abandonados pela humanidade naquele momento não era o ultimato. Nós sentíamos que ser abandonado por Deus era pior do que ser castigado por Ele. Melhor um Deus injusto a um indiferente.”
Temos vários deputados federais e estaduais eleitos com responsabilidades assumidas por esta região, sem contarmos com os deputados de outros estados onde existe CEPLAC, governadores, uma infinidade de Prefeitos, Vereadores, Rotary, Maçonaria, CDL, Câmaras setoriais, etc., está na hora de juntarmos forças em prol do fortalecimento da CEPLAC, melhorando seu orçamento, sua infraestrutura e contratando já. Em outros estados o apoio à CEPLAC é muito maior do que aqui, na Bahia. Precisamos aumentar esse apoio na Bahia onde a produção de cacau ainda responde por cerca de 70%. Termino este artigo usando a frase celebre do presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy “Não perguntem o que seu país pode fazer por vocês; perguntem o que vocês podem fazer por seu país”. Então digo “Não perguntem o que a CEPLAC pode fazer por vocês; perguntem o que vocês podem fazer pelo fortalecimento da CEPLAC”.
- Antonio da Costa Zugaib - Técnico em Planejamento da CEPLAC e Profo Do Departamento de Economia da UESC.
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