Coronavírus circulava pelo Brasil antes de surto na China, diz estudo
Estudo realizado pela Secretaria Estadual de Saúde do Espírito Santo mostra que o novo coronavírus já circulava pela cidade em 2019, antes de a China anunciar o surto da doença à Organização Mundial da Saúde (OMS). Análises de mais 7 mil amostras de pessoas com suspeita de dengue ou chikungunya indicaram que 210 tinham anticorpos contra a covid-19.
O resultado veio de uma parceria da Secretaria de Saúde do estado com o Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública), além do Núcleo de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Espírito Santo e o Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade de Lisboa, localizado em Portugal, que analisou 7.370 amostras de sangue coletadas entre 1º de dezembro de 2019 e 30 de junho de 2020.
O secretário de estado da Saúde do ES, Nésio Fernandes, e o diretor-geral do Lacen, Rodrigo Rodrigues, informaram em pronunciamento feito na terça-feira (12) que as infecções pela covid-19 ocorreram de forma oculta e foram esquecidas por outras doenças que estavam mais evidentes. A análise clínica das amostras também indicou que 16 das 79 que estavam infectadas pelo vírus da Sars-Cov-2 foram coletadas entre dezembro de 2019 e fevereiro de 2020. Ou seja, antes do primeiro caso registrado da doença no país, que ocorreu no dia 26 de fevereiro.
"Para descartar a possibilidade de que os casos anteriores de SARS-CoV-2 fossem devido a resultados falso-positivos, suas amostras também foram rastreadas quanto à presença de IgG [anticorpo] específica para as proteínas N e S [do coronavírus] por um ensaio diferente, e 7 (43,8%) das 16 amostras testadas foram positivas", informou a pesquisa. O artigo ainda ressalta que "nossos dados apóiam fortemente a hipótese de que a infecção por SARS-CoV-2 foi ofuscada por uma epidemia concomitante de dengue e chikungunya".
Rodrigo, diretor do Lacen, disse ainda que enquanto a pesquisa era desenvolvida, o Centro de Hemoterapia e Hematologia do Espírito Santo (Hemoes) buscou em seu estoque de sangue doadores que haviam desenvolvido anticorpos para a doença, e que uma amostra coletada no dia 11 de fevereiro de 2020 mostrou resultado positivo. "Foi feita uma investigação soroepidemiológica para saber se houve transmissão para contatos próximos, mas aparentemente apenas essa paciente tinha amostras reagentes para IgG", disse o diretor.
A pesquisa indica que dos 210 infectados, o diagnóstico para o vírus SARS-CoV-2 não foi considerado e apenas 79 apresentaram resultados positivos para dengue ou chikungunya. Rodrigo destacou que os resultados comprovam que "o diagnóstico incorreto é uma ameaça presente nas regiões endêmicas de dengue e chicungunya". (Correio Brasiliense)